terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Florbela Espanca

AMIGA
Deixa-me ser a tua amiga, amor,
A tua amiga só, já que não queres
Que pelo teu amor seja a melhor,
A mais triste de todas as mulheres.

Que só, de ti, me venha mágoa e dor
O que me importa a mim?! O que quiseres
É sempre um sonho bom! Seja o que for,
Bendito sejas tu por mo dizeres!

Beija-me as mãos, amor, devagarinho...
Como se os dois nescêssemos irmãos,
Aves cantando, ao sil, ao mesmo ninho...

Beija-me bem!... Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos,
Os beijos que sonhei p`rá minha boca!...

in "Livro de Mágoas", 1919


HE HUM NÃO QUERER MAIS
QUE BEM QUERER II


Meu amor, meu amado, vê... repara:
Pousa os teus lindos olhos de oiro em mim,
Dos meus beijos de amor Deus fez-me avara
Para nunca os contares até ao fim.

Meus olhos têm tons de pedra rara
É só para teu bem que os tenho assim
E as minhas mãos são fontes de água clara
A cantar sobre a sede dum jardim.

Sou triste como a folha ao abandono
Num parque solitário, pelo outono,
Sobre um lago onde voam nenúfares...

Deus fez-me atravessar os teu caminho...
Que contas dás a Deus indo sozinho,
Passando junto a mim, sem me encontrares?

In, "Charneca em Flor", 1930

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008